Síndrome de Burnout em Professores

Síndrome de Burnout em Professores

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

A síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio emocional caracterizado por sintomas de exaustão, esgotamento físico e mental e estresse relacionados ao ambiente de trabalho.

Embora seja uma síndrome que hoje acomete vários tipos de profissionais, nas mais diversas áreas de atuação, sabe-se que, segundo estudos mais recentes, os profissionais da área da saúde, educação e policiais militares são os que mais são acometidos por essa síndrome.

Dentre eles, a categoria de professores cresceu substancialmente nos últimos anos, ultrapassando inclusive, a categoria dos profissionais da saúde com essa síndrome.

Mas porque será que afeta tão diretamente os profissionais da educação?

Segundo estudos já realizados com esses profissionais, pode-se descrever algumas situações que contribuem diretamente para aquisição dessa síndrome. São elas:

Volume de trabalho

É muito comum um professor trabalhar em mais de uma instituição ao mesmo tempo, e isso se deve há vários motivos, mas o principal dentre eles, com certeza é a questão salarial.

Para conseguirem ter um salário digno ao final do mês, precisam muitas vezes conciliar várias escolas e universidades, com estruturas diferentes, turmas diversas, processos, reuniões pedagógicas, avaliações, preenchimento de relatórios, conselhos de classe, e por aí vai uma longa lista de afazeres, que em grande parte, não se resume ao seu horário de trabalho especificamente, pois muitas dessas atividades tem que ser feitas em horários extra-turno, uma vez que na escola, em seu período de trabalho, ele tem que dar a sua “aula” propriamente dita. Ficando todo o restante para ser feito em casa.

Todo esse processo acaba gerando uma sobrecarga muito grande na vida profissional do professor, sendo que muitas vezes, precisa abrir mão do seu tempo de livre (quando tem) ou de lazer para dar conta de todas as atribuições e serviços inerentes a sua função.

Precariedade das Condições de Trabalho

Muitas vezes, principalmente nos casos de quem trabalha com escolas públicas, a precariedade das condições de trabalho afetam muito o desenvolvimento do seu trabalho.

Pois muitas vezes a instituição não tem o material necessário para se dar uma aula “decente”, fazendo com que o professor muitas vezes tenha que se virar para adaptar recursos e materiais para produzir sua aula com um mínimo de recursos.

Falta de materiais, falta de reformas nos prédios das escolas, nas salas de aulas, quadras e pátios, locais onde alunos e professores deveriam ter um mínimo de qualidade para se sentirem bem e ter uma aula com maior qualidade. E sim, isso afeta e muito a vida do professor, pois este sai da faculdade cheio de expectativas, sonhos de contribuir com uma melhor educação para o seu país, mas quando entram em contato com a realidade….ela parece ser mais dura e cruel do que imaginava.

É claro que aqui, estamos falando de políticas públicas, investimentos, etc. Mas o que quero dizer simplesmente, é o quanto isso também acaba afetando a estrutura emocional do professor, gerando frustrações, queda de entusiasmo, falta de motivação, etc.

Expectativa Social X Reconhecimento do Trabalho

Outros aspecto importante ao meu ver, nessa questão, é a expectativa social gerada em torno do professor versus o reconhecimento do seu trabalho.

As relações de trabalho mudaram, assim como os processos tecnológicos, econômicos e sociais. E com essas mudanças, a educação se torna um campo fértil, que não para de se transformar, e deve ser assim é claro. Mas com isso, aumentou a função do professor, de forma indireta, ou seja, o professor hoje é o responsável por planejar e executar a sua aula da melhor forma possível, por educar o aluno em suas competências socio-emocionais (antigamente isso cabia mais aos familiares e não necessariamente a escola), ajudar a esse aluno a não se estressar tanto com as pressões que são pertinentes a vida estudantil, cobrar responsabilidades desse aluno (muitas vezes os pais não fazem a parte que caberia a eles), monitorar aquele aluno que está apresentando quadros de ansiedade, depressão, e por aí vai, uma lista enorme…

Não estou dizendo aqui, que não tem que ser assim. Estou apenas elencando algumas situações e funções que antes eram relegados à família, e que hoje, com todas essas transformações sociais que estamos vivendo, passou a ser função, muitas vezes exclusiva, da escola e professor. Gerando assim ainda mais tensão emocional e sobrecarga mental para o profissional da educação.

Por outro lado, dificilmente vemos algum familiar ou qualquer pessoa da sociedade valorizando esse mesmo profissional que passou a acumular tantas funções. É claro que existem as exceções, mas é muito triste perceber que infelizmente, neste caso, não são as exceções que formam a nossa sociedade.

Enfim, cobra-se muito, valoriza-se pouco. E toda essa situação com certeza contribui de forma negativa com a saúde do professor.

E eu nem citei as situações que ocorrem diariamente em salas de aulas em todo o Brasil, como ameaças, agressões verbais e físicas que o professor está diariamente sujeito.

De toda forma, não quero aqui, vitimizar o papel do professor, de forma alguma. Até porque o professor escolhe a sua profissão porque quer, porque gosta, porque acredita que pode transformar e mudar o futuro da educação. E eu realmente não vejo uma profissão mais linda e tão cheia de propósito para humanidade do que essa.

Mas, não podemos ignorar o fato de que a saúde desses profissionais estão cada vez mais vulneráveis. É preciso um olhar atento, um olhar acolhedor tanto da sociedade como do próprio profissional para com ele mesmo. É preciso cuidar da saúde e do bem estar.

A síndrome de burnout é um fato. Acontece com mais frequência do que imaginamos, com nossos colegas de profissão, amigos e conhecidos. E se não cuidarmos do que é mais precioso para nós, a nossa saúde, corremos o risco de além de adoecer, o de não conseguir cumprir com o propósito de vida que um dia sonhamos para nós: O de ajudar a construir um mundo melhor através da educação.

Referências
Carlotto, M. S., Câmara, S. G.(2008) Análise da produção científica sobre a Síndrome de Burnout no Brasil. ISSN 0103-5371, Vol. 39, Nº. 2, 2008 https://dialnet.unirioja.es/ejemplar/402831

Carlotto, M. S. A síndrome de Burnout e o trabalho docente Psicol. estud. vol.7 no.1 Maringá Jan./June 2002 https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-73722002000100005&script=sci_arttext

Santos, A. A., Sobrinho, C. L. N. (2011) Artigo Original - Revisão sistemática da prevalência da síndrome de burnout em professores do ensino fundamental e médio. Revista Baiana de Saúde Pública - V.35, n.2, p.299-319.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *